Depois de Marcílio ter ouvido a resposta de Michele, ele com toda calma diz sua opinião sobre o que é ter boa vida:
— Pensei que a vida fosse mais que futilidades, sempre acreditei que o tempo que temos é para ajudar aos irmãos que estão próximos a nós, então não consigo idealizar a tua compreensão do que é ter boa vida. Sabe, minha irmã, tudo na existência corporal é passageiro, só não o que praticamos de bom ou de mau, e isto trazemos conosco ao partirmos, a nossa vida é muito mais que festas e “boa vida”. Boa vida para mim, é trabalhar, é ajudar, é enfrentar as batalhas diárias. É amar e ser amado, é ser um homem de bem, é poder olhar para trás e respirar feliz por cumprir tudo o que me propus a cumprir, e ter a certeza de que poderia ter feito muito mais. Isto, sim, é uma boa vida. Agora diga-me como chegou até aqui?
— Realmente temos pensamentos distintos. Um dia, doutor, verá que meu pensamento está correto, mas já será tarde, pois já terá morrido e então tudo se acabará e você irá dormir até o retorno de Jesus. Bem, vim parar aqui devido a um acidente de avião, fui uma das sobreviventes. Infelizmente muitos morreram, mas pelo menos descansam.
— Até o retorno de Jesus, imagino.
— Isso mesmo, acaso é ateu, doutor? Percebo que o senhor muda a expressão quando me refiro a dormirmos até o retorno de Jesus.
— Não sou ateu. Peço desculpa se para você, pareço ser de opinião contrária, não por ser, uma vez que realmente sou, mas por deixar transparecer a minha opinião. Então, acredita que realmente todos dormem após a morte do corpo físico? Bem, diga-me. Quantos sobreviveram ao acidente?
— Bem, acho que foram uns 10, pois eu os encontrei aqui no hospital.
— Você pode descrever o que aconteceu antes e durante o acidente, e a percepção que teve após o acidente?
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